Crianças perdidas, abandonadas, assustadas.
Alagadas nas suas histórias e memórias.
É isso que muitas vezes encontro nas mulheres que recebo.
O tempo passou pelo corpo, mas apenas os ossos e os músculos cresceram.
As águas ficaram estagnadas e os restantes corpos adoeceram.
Nestes momentos sinto-me esmagada e encantada ao mesmo tempo.
Esmagada, porque acolher uma criança num corpo adulto, não é o mesmo que acolher uma criança pequena. Encantada porque sinto toda a potência de Deus nas minhas mãos. Um milagre pode acontecer e eu posso receber a bênção de testemunhá-lo.
Há toda uma fragilidade inerente e que precisa de cuidado e respeito. Mas à medida que o filme se vai desenrolando, é preciso acionar a coragem para não alimentar mais a doença. Lembrar com assertividade e amorosidade que do outro lado vive uma mulher. Capaz e inteira, por mais desfragmentada que esteja.
Nasceu e “só” por isso já é um sucesso. Foi célula; virou gente; atravessou um canal apertado, sem saber se o que a esperava era a morte ou uma vida abundante. Já É! Na verdade nunca deixou de Ser.
Tantas vidas suspensas à procura de colo e direção, que é o mesmo que dizer... à procura de MÃE e PAI. Tarde demais. A estrada foi cortada. O único caminho é voltares-te para dentro e seres mãe e pai de ti mesma. Agora, com o que tens, com o que és e com o que sabes.
Sabes, não é por operares com excelência as demandas práticas da vida adulta e por enfeitares o corpo com adereços e palavras simpáticas que a dor da tua criança silenciará.
Corpo de mulher não é sinónimo de adultização, se lá dentro vive uma criança aos trambolhões com as suas emoções mais primárias.
Já chega, decide internamente! O resto, a vida traz.
Está na hora de tomares conta de ti mesma. Aos poucos vais te dar conta que cresceste e és livre para fazeres o que bem entenderes com a tua vida.
Voa, mulher! A tua vida espera-te e o Todo também.
Recebe um enorme abraço.
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